terça-feira, novembro 13, 2007

DE CARA LAVADA


hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos

o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos


MARTHA MEDEIROS

segunda-feira, julho 23, 2007


Tem coisas que só paraense, seja ele de nascimento ou por adoção, sabe o que é: passar numa esquina, e salivar só de sentir o cheiro do tucupi, ou da maniçoba, empinar papagaio do cobra; ou fazer pacientemente, com talinhas de palmeira e papel de seda uma curica pra os filhos brincarem...

Paraense joga peteca, não bolinha de gude, tem seguro contra as mangas que quebram os pára-brisas dos carros, pena que não tem seguro pra cabeça, eu mesma já fui alvo delas...

Paraense conhece mato, marés, conta estória do boto, moço bonito, mas com um pitiú de peixe, mas que mesmo assim, encanta as moçoilas mais desavisadas nas noites de lua cheia , não sabe o que é pitiú? O paraense sabe!

Paraense é carinhoso, chama todo mundo de mano, mana, maninho, fica logo amigo faz almoço, jantar, põe logo dentro de casa, eita povo hospitaleiro! Fala se não é ?. Por aqui tomamos açaí pra dormir a
sexta, com farinha d'água ou de tapioca, com açúcar ou sem, com charque, pirarucu ou sem nada só ele purinho, bom que só!

Tomamos banho de rio, barrento como o Guamá ou a baía de Guajará, de rio azul transparente como o Tapajós , de Igarapé Gelado de bater o queixo de frio. Paraense tem alto verão em julho quando a maioria do Brasil morre de frio e nós por aqui bronzeadérrimos, acentuando a beleza de nossa morenice!

Festa é com a gente mesmo! Em todo o canto tem um violão, uma música legal, um carimbó, uma guitarra, um treme terra, botando todo o mundo pra dançar. Paraense quando não tem nada pra fazer vai pra beira do rio ver o pôr do sol vermelho e os pôpôpos passarem, quando está estressado vai pra Salinas, Marapanim, Algodoal, Mosqueiro, Marajó, Ajuruteua ou ata uma rede na sacada de casa e fica lá de pezinho pra fora esfriando a cabeça.

Somos índios, místicos, curandeiros, mas também com toda essa energia de águas e mata não poderia ser de outro jeito! Paraense vai ao Ver-o-Peso, compra ervas, faz chá, garrafadas, banho de cheiro uma delícia! Curas de corpo e de alma.

Ao mesmo tempo temos o privilégio de ter as bênçãos da Nazoca, com toda a intimidade que eu, como paraense, tenho pra chamá-la assim. Minha Santinha, que em outubro sai toda linda fazendo todo o mundo, paraense, turista, brasileiro e gringo engasgar de emoção.

Somos orgulhosos por sermos assim essa mistura morena, brejeira e gostosa, por sermos autênticos, pela cultura que temos, por nosso sangue índio que a tantos outros se misturou e que a nós nos faz muito, mas muito especiais!


Autor Desconhecidos

domingo, julho 15, 2007

O Sábio e o Cálice

Um mestre Zen recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre sua arte. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas. O mestre, enquanto isso serviu chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda. O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:

‘Está muito cheio. Não cabe mais chá!’

‘Como esta xícara,’ o mestre disse, ‘você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?’

As vezes me sinto assim tão cheio que não consigo aprender nada e ai tenho me encher de simplicidade e humildade, e reaprender a aprender.

Esteja sempre de ouvidos abertos a novos ensinamentos.

domingo, junho 10, 2007

Sapo verde
Antonio Miranda Fernandes

Ah moça girassol dos lábios cerejas
Adormecida na madrugada nem imagina,
Ao embalo de cantos gregorianos em surdina,
Como está maravilhosa e é pena não vejas.

Versos enternecidos, mesmo queridos, estarão
Distantes das eternidades que vivem,
Nos poucos minutos que ficarão para sempre.

Não retratarão a realidade, pois na verdade
É sonho idílico sem o início para não terminar
Como um círculo sem ponto final.

Voz sussurrada te diz acalentos aos ouvidos
Para não despertar o abandono
E no teu sono ouves poemas apaixonados
Dos desejos de amar amor não amado ainda.

Sorrir sorrisos não sorridos, e finalmente
História povoada de cantos reescrever
Amante, pelo avesso, voltando ao começo
E colocar para fora todo sentimento ainda dentro
Cultivado e que não tinha a quem florescer.

São tão ardentes os teus anseios que
Quis ser príncipe em encantamento no sapo verde
Entre os teus braços, sobre os seios
E que o beijasses e ele despertasse
Para o futuro e ficasse de forma singela
Envolto por róseos laços de seda.
Amanhecendo viçosa rosa amarela na glória de amar
E que na manhã de manhas preguiçosas
O tempo, por fim, se esquecesse.

sexta-feira, junho 01, 2007

SILÊNCIO

A vida barulhenta é trocada pela voz de seu coração. Quando as palavras se calam no seu interior, você experimenta a sensação do divino. As noites agitadas de quem não quer perder nada são substituídas por encontros mais tranqüilos dentro de sua alma.
Viver o silêncio de seu ser consiste em esvaziar seu coração de todos os desejos, pensamentos, fantasias, tudo o que você guardou dentro de si, e deixar um espaço para sua alma se expressar sutilmente.
Entender palavras é muito fácil, mas você experimentará o perfume da vida quando compreender os milagres que acontecem quando um olhar encontra silenciosamente o olhar de outra pessoa. Você conhece a verdadeira amizade quando as palavras não são necessárias e consegue perceber a beleza da lua encontrando o sol.
Seu interior tem muito mais a dizer do que todo o noticiário dos jornais. Seu ser tem mais força do que todas as imagens das novelas. Quando acontece o silêncio, você não tem mais nada para provar.
Roberto Shinyashik
(Livro "O Sucesso é Ser Feliz")

quarta-feira, maio 30, 2007