O coração do homem é uma ave sem asas.
Lá vai o velho, caminhando a passos lentos. Para ele não há incertezas. Poderia apresar-se, mas pode perder a hora, o tempo lhe faculta o domínio. Na vitrine, observa. Jovens conectados a internet não falam, pior, abreviam as palavras de forma esdrúxula. É a hora do espanto. Não poder ver o sol, nem as enzimas. O jovem transgride, pena e rotula.O mal estar moderno é cheio de contrapontos, quem tem dez anos, odeia os que têm vinte. Quem tem vinte, espera saber tudo, condena os que chegaram aos trinta. Os doutores dos trinta pensam que os que chegaram aos quarentas é bom excluí-los.Permitam-me o parêntesis: - filhos mais longe dos pais.O velho abandona a vitrine e segue sua caminhada segura a contemplar rostos. Negros lhe lembram cotas, mas vestidos - a favela, e os bem trajados - marketing. A santa idiotice grifou as pessoas, da passarela ao congresso, os tempos na medida do olho.Chega até a praça, senta-se. Observa monumentos que foram pichados em nome da audácia; que vergonha! Pensa em valores culturais, que valores? Poucos terão tempo de ler um livro, a vã filosofia está nas bibliotecas e nós estamos muito apressados.Levanta-se, vai até o carrinho do pipoqueiro. Olha a retaguarda, cuidado com o dinheiro! Manuseia o bolso, sabe que têm umas poucas moedas, não dá para impressionar. Lembra-se: as impressões são as que valem, não interessam nossas digitais. Passado, história, que importância tem tudo isso? O que vale é: toma lá, da cá.Ele sabe, se você não tiver algo material a oferecer, nem bom dia se recebe. JOSÉ ALBERTO MENSAGEIRO